Em março, quando eu vim passar férias no Brasil, algo mudou. Eu, que nos 11 anos que morei na Austrália NUNCA tive vontade de morar aqui, comecei a sentir um chamado profundo pra voltar pra casa, pra São Paulo.

Quando as pessoas me perguntam porque eu quis voltar eu me pego sempre dizendo: “ahh, minhas amigas e meus primos estão tendo filhos e eu quero participar disso tudo”. Me ouvir falando isso é, até mesmo pra mim, um pouco estranho porque eu nunca fui muito de crianças.

Mas mesmo não tendo filhos, eu aprendi muito sobre crianças com os meus dois afilhados. Eles são tão pequenos – um tem três meses e o outro tem dois anos e meio – mas eles têm uma sabedoria que nós, adultos, vamos perdendo no caminho.

Eles sabem estar totalmente presentes em cada momento do dia, ficam maravilhados com uma formiguinha que cruza o caminho, ou com um pedaço de giz, como se fosse a coisa mais mágica do mundo.

E pensando bem, tudo pode ser muito mágico se a gente souber olhar bem de pertinho. Mas a gente não sabe, porque a nossa mente está quase sempre pensando no futuro, ou no passado, ou contando histórias sobre nós e sobre os outros, distraindo nossa atenção o tempo todo.

Para e pensa quando foi a última vez que você realmente viu alguma coisa? Quando foi que você olhou uma folha de árvore e percebeu que tem um mundo inteiro ali dentro? Quando foi que você parou para realmente enxergar o sorriso da sua amiga, com tudo que ela tem de humano e sagrado ao mesmo tempo?

Eu aposto que você está perdendo muita coisa no caminho, porque a maioria das pessoas está! Ainda mais vivendo num mundo de distorções, com o celular na mão 24h por dia.

A boa notícia é que, a cada momento, o universo cria uma nova oportunidade para a gente estar onde está, pra valer, e ver o que pode ser visto. É um exercício que a gente pode praticar a cada instante… E, aos poucos, coisas incríveis acontecem.

Como as tantas vezes em que, por alguns momentos, consegui focar minha atenção nos meus afilhados, percebendo a gente ali, junto. Quando eu consegui parar de pensar no que eu deveria estar fazendo e olhei, com atenção, aqueles cílios grandes ou aquela paixão imensurável por dinossauros de plástico.

As crianças me ensinam, constantemente, a maravilha que é essa oportunidade de ser, apenas ser quem a gente é, onde a gente está, perto de quem a gente está perto, agora.