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Meu pai e eu éramos grudados quando eu era criança. Sabe quando você forma uma dupla com alguém? Eu lembro que, quando eu era pequena, gostava de ficar mexendo na orelha dele e ele dizia que dois anos antes de eu nascer ele estava de olhos fechados num centro espírita e sentia uma sensação na pontinha da orelha. Depois, disseram pra ele que viam uma menininha do lado dele, mexendo bem naquele ponto. Mistérios da vida.
O tempo passou, eu cresci e, durante o divórcio dos meus pais, uma parte desse encanto acabou se perdendo. Eu tinha 13 anos, e claro que foi tudo muito complicado e confuso.
Para a nossa dupla, foi o começo de uma época de muito desencontro. Eu esperava que ele agisse de um jeito, eu esperava que o amor viesse empacotado de uma determinada maneira. Queria que ele me ligasse mais, que soubesse do que eu estava precisando, que fosse pai do jeito que eu tinha imaginado.
E como nada acontecia do jeito que eu queria, era a tristeza, a raiva e a frustração que davam as cartas na minha forma de pensar e agir com o meu pai.
Foi depois de muitos anos – eu já adulta e morando na Austrália – que a minha visão começou a mudar. A vida foi me ensinando sobre como o amor funciona e, surpresa! Descobri que não existe um jeito só de amar, de demonstrar amor. Cada pessoa tem uma forma diferente.
Tem as que mostram amor passando o tempo todo junto, tem as pessoas que precisam de mais espaço.
Tem gente que gosta de falar no telefone com quem ama, tem gente que detesta.
Tem gente que gosta de reparar em miudezas e cuidar de detalhes da vida de quem ama, e tem gente que nem repara nisso.
Tem gente que adora aniversário e faz questão de cantar parabéns, tem gente que não liga.
Tem gente que adora dar presentes e tem gente que não sabe.
Tem gente que sabe falar eu te amo, e tem gente que vai passar a vida toda sem te dizer isso.
Eu só sei que, um belo dia, eu parei de procurar provas de amor do meu pai. Parei de medir as atitudes dele com a fita métrica. Eu parei, aceitei.
E assim permiti que o sentimento dele fluisse até mim. E ele veio, o amor caudaloso do meu pai fluiu como uma água represada que finalmente encontrou uma brecha pra correr e preencher os rios que esperavam por esse amor que só ele podia me dar. Foi bom, foi lindo, foi uma cura.
Quando meu pai veio me visitar pela primeira vez na Austrália, eu senti pela primeira vez este reencontro. E que alegria (que alegria!) ter de novo, perto do coração, a dupla que eu nunca quis ter perdido.
Não é só sobre perdão. É sobre entender como funciona o jeito de cada um. Se a gente passar a vida pensando que o amor tem o mesmo rosto para todo mundo, vai deixar passar muita coisa boa sem perceber. Se a gente continuar achando que o nosso jeito de amar é o jeito “certo”, vai perder muita gente que ama diferente.
Então olhe, olhe bem de pertinho: pode ter amor de sobra na sua vida e você ainda não se deu conta.
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