Morar fora é mais difícil do que parece – quem viveu a experiência sabe
Nos anos que morei fora, quando batia a tristeza, saudade e frustração de não ter certezas sobre o meu futuro, eu ouvia as famosas frases de consolação:
“Não reclama porque esse é o sonho de um monte de gente e você tá aí – aproveita!”
“Ahh quem me dera estar passando por esse tipo de problema…”
Quem não vive, não entende a dor de morar longe de casa
Mudar de país é desconstruir verdades, é se desafiar a mudar de mundo, é se perder de uma tal maneira que nem na sua própria linguagem você se acha mais
Morar fora mexe no maior medo do ser humano – o não pertencimento. E ali, naquele mundo, você não pertence mesmo
Ir embora do Brasil é abandonar um futuro previsível, mas confortável. É deixar pra trás as piadinhas, as gírias, a fluência de ideias
É deixar pra trás a nossa luz, o nosso sabor. É não acertar o ritmo das palavras, perder o gingado e a música da nossa língua
Morar fora não é fácil porque é praticamente um parto – você nasce de novo. E, por ter acabado de nascer, não sabe falar, não sabe pedir, não sabe se impor
A gente engole sapos que em casa não engoliria
Faz amizade com quem em casa não faria
Vira alguém que em casa não seria
Mas é incrível, profundo e transformador. O renascimento de um ‘eu’ mais forte e mais poderoso, como a fênix
Que privilégio poder se experimentar, expandir, se conhecer nessa profundidade
Que sorte poder se infiltrar em outros mundos, conhecer outras realidades e saber que, pra sempre, o Brasil estará dentro de nós
Morar fora não é fácil, mas é corajoso, intenso, profundo
Quando apertar respira fundo, lembra do chamado que inspirou essa aventura
Lembra que não existem coincidências e que você não acabou aí à toa
Confia na voz que te guia, que você terá as respostas quando for a hora e não esquece que a cada passo você tá construindo a história da sua vida, com a sua cara.
