No ano que eu completei 30 anos eu tive uma das maiores crises da minha vida. Daquelas que separam a nossa vida entre o antes e o depois daquele momento. Antes eu era praticamente um trator. Dura, firme, sólida. Mas, de repente, aquele modelo já não fazia mais sentido. Eu me via numa vida que eu mesma tinha construído, mas já não me encaixava mais ali. Parecia até que eu estava vivendo a vida de outra pessoa. ‘Se eu sonhei tanto em estar aqui, vivendo tudo o que estou vivendo, porque esse vazio, essa angústia, esse desânimo?’ Chegou o momento em que minha armadura já não dava conta de sustentar meu coração. É difícil se reinventar porque a gente precisa passar um tempo no limbo, no “não sei”, no escuro. Mas tempo passou, as mudanças assentaram e eu fui tomando força de novo. Dessa vez uma força diferente, mais maleável, mais flexível, mais acolhedora. Passei a me sentir mais grata, mais leve, mais feliz. Comecei a reparar nas árvores, nas flores, nas estrelas. Eu despertei. Resgatei uma Fernanda vibrante, intensa, sonhadora que eu cismava em sufocar. Fui me encontrando cada vez mais livre, afinal eu já não precisava controlar tudo – eu podia confiar um pouco mais na vida, no universo, na minha essência. Voltei pra casa, pra mim. Foi preciso coragem pra entrar nessa travessia, mas nada valeu tanto a pena. Tenho muito orgulho da Fernanda dos 30 e não consigo pensar nela sem que esse poema (que me marcou muito na época) me venha em mente: “Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.” (Fernando Teixeira de Andrade) ❤️